A CULTURA DO CAFÉ EM NAZARÉ
1. O café, mola propulsora do desenvolvimento.
Uma deslumbrante revelação nas pesquisas da história de Nazaré Paulista:
Nosso Município, nos primórdios do século passado, foi um grande produtor de café.
Nazareth, assim como toda a região Bragantina, nas décadas de 1920, possuía grandes áreas de cafezal e eram muitos os produtores de café. E o nosso Município foi palco de um crescente desenvolvimento decorrente da cultura daquele grão.
O café era naquela época uma das maiores fontes de produção, de comércio e de geração de riqueza do Brasil. Sua produção era escoada e exportada pelo porto de Santos, transportada pela Estrada de Ferro Bragantina que fora aberta ao tráfego em 1884, e pela Estrada São Paulo Railway que ligava Jundiaí ao Porto de Santos, passando pela Capital do Estado.
Com o advento do “crack” (quebra) da Bolsa de Valores de Nova Iorque no ano de 1929, houve a Crise do Café no Brasil. As exportações retraíram, tivemos a queima do excesso de café produzido, e a falência dos exportadores e dos produtores daquele grão. Até a Estrada de Ferro Bragantina que fora construída em função do escoamento daquele produto entrou em decadência, até ser desativado.
2. A ferrovia que passaria por Nazareth
Em fins do século XIX houve um jogo de interesse entre a S P Railway e a Companhia Mogiana. Esta última projetou levar suas linhas férreas de Campinas até o litoral para o Porto de São Sebastião, passando por Amparo, por Bragança Paulista e cruzando o nosso Município de Nazareth, talvez com o mesmo trajeto da atual Rodovia D. Pedro I, passando pelo Vale do Paraíba e descendo a Serra do Mar até São Sebastião.
Entretanto, e infelizmente, esse trajeto teria que cruzar a Estrada de Ferro Bragantina, o que era impedido legalmente, fato que arquivou a pretensão e evitou a construção da Cia. Mogiana.
Nazareth perdeu assim a oportunidade de ter um terminal ferroviário, com acesso ao Vale do Paraíba e ao litoral.
3. Os Nazareanos produtores de café na década de 1920
Em 9 de dezembro de 1928 a Câmara Municipal de Nazareth publicou o lançamento da coleta de imposto para o exercício de 1929, a que estariam sujeitos os cidadãos produtores de café.
Esta relação foi publicada no Jornal “A Folha”, em sua edição nº 177, da qual reproduzimos o nome do produtor, o bairro e a quantidade estimada de pés de café.
Produtor bairro nº de pés de café
1. Antônio Pedroso Ribeirão Acima 8.000
2. Ângelo de Souza Ramos Ribeirão Acima 2.000
3. Adolpho Pedroso Guaxinduva 6.000
4. Antônio Rodrigues dos Santos Sob. Guaxinduva 5.000
5. Amélia Ambrozina de Oliveira Guaxinduva 10.000
6. Antônio Lopes da Cunha Quatro Cantos 2.000
7. Abrahão Constantino Pinheiro Quatro Cantos 4.000
8. Antônio Bueno Gonçalves Mascate Grande 2.000
9. Antônio Pires dos Santos Mascate Grande 2.000
10. Antônio José Mariano Mascate Grande 1.000
11. Benedito Mariano da Cunha Filho Quatro Cantos 2.000
12. Viúva de Benedito Mariano da Cunha Quatro Cantos 2.000
13. Benedito Siqueira Franco Quatro Cantos 2.000
14. Benedito Bueno Pinheiro Mascate Grande 1.000
15. Benedito Alves Pedroso Vargem 4.000
16. Bento Firmo de Almeida Guavirutuba 2.000
17. Camilo Rodrigues de Souza Atibaia Acima 2.000
18. Francisco Jorge Ribeirão Acima 2.000
19. Generoso Antônio de Moraes Ribeirão Acima 5.000
20. José Francisco de Carvalho Mascate Grande 1.000
21. José Antônio Pires Mascate Grande 1.000
22. João Antônio Pinheiro Mariano Cidade 10.000
23. José Miguel Itinga 3.000
24. João Alves da Silva Mascate 2.000
25. José Pinheiro dos Santos Mascate 2.000
26. João Batista Caraça Mascate 1.000
27. José Pinheiro de Almeida Guavirutuba 10.000
28. João Gonçalves de Oliveira Guaxinduva 20.000
29. José Rumith & Irmão Guaxinduva 10.000
30. José Pedroso Guaxinduva 5.000
31. João Mariano da Cunha Quatro Cantos 1.000
32. Joaquim Mariano da Cunha Quatro Cantos 3.000
33. Joaquim Antônio dos Santos Quatro Cantos 1.000
34. João Antônio Gonçalves Quatro Cantos 2.000
35. João Antônio Pinheiro Quatro Cantos 2.000
36. Joaquim Alves da Silva Quatro Cantos 2.000
37. José Pires de Oliveira Sobrinho Quatro Cantos 3.000
38. João Alves da Cunha Pinto Quatro Cantos 25.000
39. Leonel Moura Guaxinduva 6.000
40. Lourenço Alves da Silva Guaxinduva 4.000
41. Luiz Pedroso Guaxinduva 1.000
42. Leopoldina Pedroso Guaxinduva 10.000
43. Manoela Maria do Rozário Mascate Grande 1.000
44. Olympio Antônio Pinheiro Quatro Cantos 1.000
45. Sebastião Rodrigues Freitas Quatro Cantos 5.000
4. Curiosidades observadas:
A publicação da Câmara Municipal prescrevia que;” Os que tiverem alegações a fazer poderão dirigir-se por meio de requerimento até o fim do corrente mês (dezembro de 1928)”.
Os bairros com maior plantação eram: Guaxinduva, Mascate e Quatro Cantos.
Os maiores produtores: Antônio Pedroso, Amélia Ambrosina, João Antônio Pinheiro Mariano, José Pinheiro de Almeida, João Gonçalves de Oliveira, José Rumith e João Alves da Cunha Pinto. Eram, talvez, os maiores proprietários rurais do Município.
Embora estimados, o número de pés de café atingia um total de aproximadamente 180.000, o que demandava uma extensa área e muita mão de obra a ser utilizada para a colheita, beneficiamento e transporte.
Atualmente, não se tem indícios das áreas onde eram plantadas com cafezal, nem de terreiros e fornos para beneficiamento do produto. Desconhece-se também como foram extintas e exterminadas as lavouras nazareanas de café.
Nos tempos atuais, primeiras décadas deste século XXI, um dos únicos, senão o único cultivador de café no Município, era o Sr. Nelson Gamarra, com 50.000 mil pés de café plantados no bairro do Ribeirão Acima, sendo que sua plantação sofreu por duas vezes incêndios provocados por queda de balões, com extinção de cerca de 35.000 pés, tornando inviável a mantença da torrefação, optando pelo plantio de eucalipto e aquisição de grãos de café de outras zonas cafeeiras, e assim prosseguindo com a indústria.
5. Consequências
Com o auge do ciclo do café nas primeiras décadas do século passado os Nazareanos se empolgaram no plantio desse grão, com seus grandes lucros, e que foi chamado de “ouro negro”.
Em consequência não se dedicaram ao plantio extensivo de outras diversas culturas, como a do milho, do arroz, da cana e do feijão. Apenas cultivavam o necessário para suas sobrevivências, ou seja, a agricultura de quintal ou familiar.
Com a depressão americana, a queda da exportação, a queda nos preços e a escassez da demanda, cessaram as vendas e os lucros, e a comunidade nazareana adentrou num período de estagnação e de retrocesso no seu desenvolvimento. Houve uma reportagem do Jornal A Folha de São Paulo que descreveu a sede do Município como sendo uma “Cidade Fantasma”.
O crescimento da agricultura e da economia nazareana só foi retomado nestas últimas décadas com o plantio, cultivo e comércio do eucalipto com o fabrico da lenha e do carvão. Nada mais é plantado ou colhido no chão de Nazaré Paulista como atividade comercial. Passamos a sonhar com um futuro voltado para o turismo rural, náutico e religioso.
Oxalá tenhamos mais um ciclo de desenvolvimento para o município.
Nazaré Paulista, junho de 2016
Oscar Teresa Pinheiro do Carmo
Bom dia! Buscando e pesquisando sobre a produção cafeeira em Nazaré Paulista achei seu artigo Maravilhoso, ricos detalhes muito prazer sou Alecsandro, e estamos aos poucos junto a associação dos cafeicultores de Bragança Paulista, resgatando essa cultura maravilhosa em Nazaré Paulista, Parabéns pela matéria