45. DESCRIÇÃO DE NAZARÉ

Descrição de Nazaré Paulista manuscrita em 1984 por Aurora Barbosa Pinheiro , em um caderno escolar pautado de linguagem.

Aurora Barbosa Pinheiro, nazareana, nascida no bairro do Cuiabá em 16 de abril de 1920, falecida em 17 de março de 2017, filha de Joaquim Alves Barbosa e de Alexandrina Valinhos Barbosa, casada com Gonçalo Pinheiro, todos já falecidos, mãe de José Carlos Pinheiro, escritor e poeta residente em Santos/SP, tia de minha esposa Sônia, irmã de Aparecida (minha sogra), Geraldo, Ester, Nelson, Benedito e Oswaldo, antiga moradora na casa à Praça Nossa Senhora de Nazaré, 31, onde atualmente resido.

Católica, extremamente devotada à nossa Padroeira, membro do Apostolado da Oração, participativa das festas e solenidades religiosas, e sempre com uma “aurora” de devoção, fraternidade e de amor ao próximo.

Foi uma das primeiras pesquisadoras e escritoras da história de Nazaré, cuja virtude legou ao seu filho, o escritor e poeta José Carlos Pinheiro, com o pseudônimo de “Lucas Benjamim”.

(segue transcrição do original manuscrito pela Aurora em 1984)

                                          NAZARÉ PAULISTA

                                     UMA CIDADE HISTÓRICA

               “Sua fundação data de 1676.

A 83 quilômetros apenas da Capital, por estrada de rodagem via Atibaia, Nazaré Paulista constitui uma das curiosidades históricas de São Paulo.

Sua fundação data de 1676, pois nesse ano no local em que se ergue hoje a igreja matriz da cidade, fundava Mathias Lopes a capela que deu início a primitiva povoação.

A respeito desse Mathias Lopes pouca coisa se tem escrito.

Não seria difícil identificá-lo contudo como o segundo filho  do português Matias Lopes e de Catarina de Medeiros, irmão de Antonio Lopes de Medeiros, que foi ouvidor da Capitania de São Vicente e São Paulo, em 1659, e de Zuzarte Lopes que faleceu em 1635 no sertão dos Patos, em casa do principal de Aracambi.

(Genealogia Paulistana, de L. G. Da Silva Leme, volume 20, página 10 – seguintes)              

Esse linhagista atribui ao segundo Matias Lopes que foi casado com Catarina  do Prado, filha de João Gago da Cunha e de Catarina do Prado, posto de sargento-mor que Pedro Taques omite.

A 4 de janeiro de 1660 o fundador de Nazaré alegava em requerimento a indelidade Paulistana que haveria sete anos, portanto a partir de 1653 estava de posse de um pedaço de terra dos índios guaramirins, onde tinham os seus currais, o rancho dos vaqueiros, pelo que pedia concessão oficial dessa gleba, no que foi atendido. Uma outra data de terras lhe foi adjudicada a 26 de março do ano seguinte. Era de 200 braças, e ainda pertencente aos índios Goaramirins.

Nessa área Matias Lopes se fixara havia mais de vinte e cinco anos  e nela tinha suas roças de mantimentos. Evidentemente numa de suas concessões, a última limitava com o rio Maquirobi e que Matias Lopes ergueu a sua capela votiva, núcleo da futura cidade de Nazaré.

Está a 1030 metros de altitude, pelo clima pelo pitoresco, pelas águas excelentes, bem mereceria as honras de estância de veraneio. (Transcrito dO Estado de São Paulo)

                             Nazaré e suas Belezas
Nazaré, Nazaré

Como és formosa

Quanta delícia em teu viver encobre

Quer dizer flor o teu nome

 e és uma rosa

Que Deus tão rica fez,

 sendo tão pobre.

                        Padre Chico

“Da virgem mãe de Deus

Tão casta e bela

Tens tu a proteção que te dispensa,

Vês nos astros da noite o riso dela

Riso de luz que ilumina a crença”

E como diz o saudoso  Padre Alfredo Costa, a cidade ideal onde a natureza vive e canta na linguagem doce e melodiosa da passarada em festa”

Colocada a mil e trinta metros acima do nível do mar, rodeada de luxuriante vegetação e encantadoras montanhas, dotada de uma água cristalina e pura, clima adorável, topografia encantadora. Nazaré ocupa um posto distinto entre as cidades Paulistas, privilegiadas para estação de cura e repouso.

O viajante que aporta a esta encantadora paragem tem a impressão de que está atravessando as belas e pórticas regiões da Suíça, pela sua temperatura amena, pelo ar oxigenado que se respira, pelo bem estar que lhe oferece.

O ilustre Dr. e educador Dr. Gastão de Moraes, professor da nossa escola de aprendizes marinheiros,  residente no Rio de Janeiro visitando Nazaré, disse:

“É a mais bela cidade brasileira pela sua topografia e pela sua natureza..

Conhecedor da encantadora Suíça, encontrou nesse abençoado pedaço do Brasil todos os encantos e magnificências daquele país, lendário e privilegiado.

È o testemunho de um dos mais cultos e competentes ornamentos da intelectualidade brasileira, cuja opinião honra nossa querida terra, envaidecendo seus filhos.

Oxalá que os nossos compatriotas amantes de excursões proveitosas, procurem este pedaço de território Paulista, rico em virtudes, cujas cores vivas, luzem no cimo do elevado monte e entre as vizinhas mais altivas dão direito de exaltar a fonte”.

Procurem em Nazaré quanta delícia em seu viver se encobre, quer dizer Paulistas e brasileiros, flor o seu nome fez, no esplendor poético de sua natureza empolgante e sugestiva.

Na crista do monte arcantilhado como uma gota de luz te aninhas conservando o depósito sagrado de tuas tradições de honra, de trabalho e de patriotismo, herdada de teus maiores…

Benedito Martins

 Diretor do jornal “O Município” desta cidade publicava em suas primeiras páginas o texto acima.

Consta que a despeito do caráter político do órgão, improvisava artigos de indescritível beleza, como o acima descrito.

A grafia das palavras, a fim de conservar a originalidade do texto, foi mantida.

                                               Da Fundação

A data de fundação de Nazaré é assunto controvertido.

No livro do tombo da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré e dos arquivos da Cúria Metropolitana de Bragança, consta que em 1676 Mathias Lopes mandara construir uma capela em suas terras, no alto da colina, sob a invocação de Nossa Senhora de Nazaré, é uma dessas cidades antigas que a fé e aventura dos bandeirantes fundaram em chão Paulista. O próprio nome constitui uma invocação religiosa, e sua construções derramadas pelas encostas do monte lembram a defesa dos ataques dos índios, a antiga povoação, Pousada das Bandeiras.

Elevada à categoria de Município em 1850.

                                               A Festa do Divino

A tradicional festa do divino é algo fenomenal. De essencialmente religiosa nos antigos tempos, a festa hoje tem de tudo, tem religião, tem folclore, tem feira e tem diversão.

A festa realiza-se no dia 29 de junho, mas desde o dia 19 a população fixa e flutuante que aumenta dia a dia, unindo-se em procissão de manhã e de noite, percorrendo as ruas da cidade, com suas “ bandeiras” em ato de fé e devoção ao Divino Espírito Santo. Ao final das procissões, “ as alvoradas, como em todo ano, é servido café com paçoca, os “comes e bebes”, também nos dias de festas o famoso “afogado” para todos. Durante a festa o que caracteriza muito é o folclore presente a cada canto, a toda hora: são caiapós, evocando as danças dos nossos indígenas: são os sambas, as congadas. Lembrando as contribuições dos negros na formação do nosso povo e a própria alvorada levando-nos ao passado a origem cristã de nossa gente.

D Alexandrina Barbosa contava para nós que quando ela era menina, as festas eram muito bonitas, não se dizia “festeiro e festeira”. Era o Imperador e Imperatriz, cada um fazia o seu dia de festa mais lindo.

 Era servida mesa de doces para todos, ela junto com sua prima Melica, foram comer doces, então as moças que serviam perguntaram: Que doce você quer? A prima Melica disse: Eu quero fios de ovos. Ela disse, eu também.

Os músicos da banda também tinham sua mesa especial .

Aurora Barbosa Pinheiro

Nazaré – 1984

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