Dos diversos MATHIAS LOPES (são cinco os homônimos) que existiram no cenário da história paulista e que viveram em uma mesma época, os quais foram relacionados na postagem anterior (39. Mathias Lopes e Zuzarte Lopes) vamos analisar qual deles teria sido o fundador de Nazareth:
O primeiro Mathias Lopes, casado com Catharina de Medeiros, genro de Salvador Pires, faleceu em 1651. Não pode ter sido o fundador de Nazaré em 1676.
Igualmente pode ser excluído da possibilidade de ter sido o fundador, o quarto Mathias Lopes, filho de Filippe da Cunha Gago e Ângela Fonseca, pois se casou em Nazaré no ano de 1761; se tivesse fundado Nazaré em 1676, com um mínimo de quinze anos, estaria casando-se com 100 anos de idade.
O quinto Mathias Lopes, da família dos Prados, filho de Bárbara Cardoso de Almeida e de Domingos Lopes de Lima é citado erroneamente pelos autores Pedro Taques e Murillo de Almeida Passos como sendo o fundador de Nazaré Paulista.
Pedro Taques de Almeida Paes Leme, notável linhagista, escreveu em meados do século XVII, a sua não menos notável obra: Nobiliarchia Paulista Histórica e Genealógica, fonte e relicário dos primeiros habitantes de São Paulo, pode ter incorrido em erro ao citá-lo como sendo o fundador, pois, seu bisavô, Luiz Furtado falecendo em 1636, sua avó Izabel Furtado deve ter nascido por volta de 1630.Como seu avô, Mathias Cardoso de Almeida faleceu em 1656, sua mãe, Bárbara Cardoso de Almeida deve ter nascido por volta de 1645. Seu pai, Domingos Lopes de Lima falecendo em 1667, e sendo o irmão mais velho de outros quatro, só pode ter nascido por volta de 1660 a 1665, e desta maneira só possuía cerca de 10 a quinze anos em 1676, ano da fundação de Nazaré, o que o exclui da possibilidade de ser o fundador.
Todavia, o fato de ser filho de Bárbara Cardoso, fundadora de Bom Jesus dos Perdões em 1705, e ser irmão do Padre Manoel Cardoso de Lima, pode ter induzido a crer nessa possibilidade, e assim escrevendo, levou outros a cometerem o mesmo erro.
Com estas exclusões, restam o segundo e o terceiro Mathias Lopes, ou sejam, Mathias Lopes, casado com Catharina do Prado (a segunda), irmão de Zuzarte Lopes; e de seu neto, Mathias Lopes de Medeiros, filho de João Lopes de Medeiros e Marianna da Luz, e casado com Mécia Vaz Cardoso.
Excluindo-se o terceiro Mathias Lopes em virtude do sobrenome Medeiros, sobra o segundo Mathias Lopes, sargento-mor, casado com Catharina do Prado, filha de João gago da Cunha e de Catharina do Prado, irmão do Cap.Zuzarte Lopes de Medeiros, o qual foi inventariante de seu outro irmão, João Lopes de Medeiros, em 1686, casado com Lucrécia Moreira , e pai de Maria Lopes, falecida em 1723, em Nazaré, casada com João Telles Fogaça, com filhos batizados em Nazaré.
Os indícios do real fundador
Vários registros e indícios levaram-nos a, respeitosamente, discordar dos historiadores e linhagistas referidos e não aceitar o fundador por eles mencionado, tais como:
1- O linhagista Silva Leme, corrige vários erros de Pedro Taques, e não incide no erro de indicar o Mathias Lopes, filho de Bárbara Cardoso, como fundador de Nazaré.
2- Os registros biográficos de Frei Mathias do Espírito Santo por nos solicitados e enviados pelo Arquivo do Mosteiro de São Bento, de São Paulo e do Rio de Janeiro, não acusam ter ele fundado Nazaré, nem tampouco erigido capela à Nossa Senhora de Nazaré.
3- O filho de Bárbara Cardoso tinha o nome de Mathias do Espírito Santo e não, Mathias Lopes. Não consta igualmente que tenha adotado tal nome por ocasião de sua ordenação como frei beneditino.
4- Tivesse ele fundado Nazaré ou erigida a capela de Nossa Senhora de Nazaré, era de se esperar que lá tivesse atuado como pároco. No entanto seu nome não consta dos livros tombos da paróquia.
5- A primeira folha do livro-tombo nº 1 da paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, redigida por volta de 1690, registra como fundador da capela Mathias Lopes, e não, Mathias do Espírito Santo.
6- Ainda nesse registro consta a expressão: “… e mandou-a fazer Mathias Lopes, seu Zuzarte Lopes…”. Depreende-se que eram os dois irmãos, filhos de Mathias Lopes (o primeiro) e Catharina de Medeiros, neto de Salvador Pires.
7- Tivesse sido o Frei Mathias do Espírito Santo o erigidor da capela, a mesma teria sido administrada pela Ordem Beneditina, com os registros e arquivos da mesma. Nada se encontrou a respeito.Os primeiros registros estão no arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo e na Diocese de Bragança Paulista.
8- Pedro Taques aumenta o seu engano ao citar como um companheiro de Mathias do Espírito Santo na fundação da cidade , o bandeirante Gonçalo Simões Chassim. Este não esteve e nem deixou raízes no povoado. Assim se refere: “Estabeleceu-se em São Paulo, na vila de Parnahiba, com grande fazenda de cultura, e da república desta vila teve repetidas vezes as rédea do governo. Foi fundador da capella de Nossa Senhora de Nazareth, construída na mesma fazenda junto ao rio Tietê.”
Nazaré nunca teve fazenda dos Chassin e não se situa à margem do rio Tietê.
9- Azevedo Marques, em seu Apontamentos Históricos, tomo I, pág 134, induzido por Pedro Taques, também reproduz o mesmo erro ao afirmar: “Nazareth, povoação fundada por Mathias Lopes e Gonçalo Simões Chassim, os quais pelo ano de 1676 aí edificaram uma capela à invocação da Senhora de Nazaré…” . Trocou-se o rio Tietê pelo Atibaia.
10- O maior e mais significativo indício caracterizador de que foi o nosso “segundo Mathias Lopes” o real fundador de Nazaré Paulista, é a sua ascendência e a numerosa descendência com vínculo no antigo povoado de Nazareth, quer seja por lá terem nascido, casado ou falecido. Constatamos estes registros tanto em Pedro Taques como em Silva Leme, além de serem confirmados pelos Livros-Registros da paróquia. Resumimos estes registros genealógicos de Mathias Lopes no tópico seguinte,
Os ascendentes de Mathias Lopes
Tiveram origem no tronco dos “Pires” através dos portugueses João Pires e seu filho Salvador Pires, vindos de Portugal com Martim Afonso de Souza em 1531, desembarcando em São Vicente.
Segundo Silva Leme este Salvador Pires, casado com Maria Rodrigues, de São Vicente veio para Santo André em 1553 e recebeu uma carta de sesmaria do capitão-mor governador, Jerônimo Leitão, e recebeu também meia légua de terras na Tapera que tinha sido alojamento do índio Baibebú, partindo pelo campo de Piratininga direto à serra. Salvador recebeu essas terras por ser um potentado lavrador que dava avultada soma de alqueires de trigo ao dízimo, além de colher outros frutos todos os anos.
1. Salvador Pires e Maria Rodrigues tiveram dois filhos:
1.1 Manoel Pires, e
1.2 Salvador Pires (o segundo)
1.2 Salvador Pires (o segundo) casou-se com N. De Brito e em segunda vez com Mécia Fernandes. Teve grandes lavouras mantidas por numerosos índios catequizados em sua administração. Foi expoente político e faleceu em 1592 na sua fazenda situada acima da cachoeira Parnahy, no rio Tietê. E teve 12 filhos:
Da 1ª mulher:
12.1 Beatriz Pires
12.2 Diogo Pires
12.3 Amador Pires
12.4 Domingos Pires
Da 2ª mulher:
12.5 Maria Pires
12.6 Catharina de Medeiros
12.7 Anna Pires de Medeiros
12.8 Izabel Fernandes
12.9 Salvador Pires de Medeiros
12.10 João Pires
12.11 Custódia Fernandes, e
12.12 Antônio Pires
O erro do suposto fundador
Muitos autores, e por muito tempo, consideraram o Frei Mathias Lopes, ou Mathias do Espírito Santo, filho mais velho de Bárbara Cardoso de Almeida, como sendo o fundador, ou um dos fundadores de Nazaré.
Conheçamos com detalhes quem foi este Frei Beneditino:
Mathias Lopes, era filho mais velho de Bárbara Cardoso de Almeida e de Domingos Lopes de Lima, neto de Mathias Cardoso de Almeida, o velho, sendo este um ativo sertanista que integrou diversas bandeiras e faleceu em 1658, sobrinho do homônimo Tenente-General Mathias Cardoso de Almeida, o filho, sendo este também um famoso bandeirante e muito referido pelos historiadores, capitão-mor da célebre bandeira de Fernão Dias.(Pedro Taques)
Nasceu em São Paulo, entrou no noviciado no Mosteiro de São Bento de São Paulo em 11 de abril de 1684; esteve por um período no Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, voltou a São Paulo talvez em 1697, foi Presidente do Mosteiro de São Bento de Sorocaba entre 1698 a 1710, ou seja, foi Prior daquele Priorado que na época, ao contrário do que ocorre hoje, era independente da Abadia de São Paulo, e depois, em 4 de abril de 1707, foi eleito Abade do Mosteiro de São Paulo, para o triênio de 1707 a 1710, pela Junta reunida no Mosteiro de Tibães em Portugal ( na época a responsável pela escolha dos abades da Congregação Portuguesa, da qual faziam parte os mosteiros do Brasil).
(dados do arquivo do Mosteiro de São Bento de São Paulo, informados pelo Ir. Eduardo Uchoa Fagundes, OSB, em 20 de dezembro de 1999)
O historiador Pedro Taques, em sua obra Nobiliarchia Paulistana, à pagina 43, diz que o Padre Mestre Dr. Frei Mathias do Espírito Santo foi monge beneditino e teria vestido a cógula monástica pelos anos de 1685 mas teria sido privado dela pelos inquisidores em 1648. O Frei Eduardo Uchoa Fagundes, responsável pelo arquivo do Mosteiro de São Bento de São Paulo contesta essa afirmação daquele autor, afirmando: …”Afora um erro de cópia na segunda data, sabemos pellos documentos de nosso arquivo que não só ele entrou para o noviciado em 1684, mas perseverou no mosteiro e foi Abade, ou seja, tornou-se um Prelado, único prelado de toda a parte centro-sul do Brasil (já que São Paulo só foi ter um bispo em 1711), e certamente nunca se indispôs com a inquisição. Silva Leme não reproduz este erro”.
Francisca Maria Brandão, responsável pelo arquivo do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro, informou em 7 de janeiro de 2000, que o Frei Mathias do Espírito Santo, de acordo com o Catálogo dos Bispos-Gerais-Provinciais-Abades e mais cargos da Ordem de São Bento do Brasil, 1562-1975, da autoria de Dom José Endres OSB., nasceu na cidade de São Paulo, foi Presidente do Mosteiro de Sorocaba de 1698 a 1701 e Abade do Mosteiro de São Paulo. Nesta mesma obra, em nota de rodapé, D. José Endres cita outro célebre historiador, Affonso de Escragnolle Taunay, que em seu livro “História Antiga da Abadia de São Paulo, escrita à vista de avultada documentação inédita”, à folha 177 escreve: “Na era de 1708 entrou o P. M. Fr. Mathias do Espírito Santo, muito zeloso porém desconfiado, fez a parede da igreja que tinha cahido, por ser tempos de muitas águas; custou-lhe muito porém, com o favor de Deus, levou ao fim, não fez etado, governou athé a era de 1718.”
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