27. A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO EM NAZARÉ PAULISTA, EM 1947

FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO

EM NAZARÉ PAULISTA EM 1947

 (Trechos extraídos e sintetizados do artigo publicado na revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo -IHGSP, Volume LVII- 1959: ”As festas do Divino Espírito Santo no Estado de São Paulo”, de autoria de Alceu Maynard Araujo )

Maynard realizou um estudo sobre as variações regionais da Festa do Divino no Estado de São Paulo nos anos de 1945 a 1956, do qual extraímos alguns aspectos por nós julgados interessantes e principalmente os da Festa do Divino de 1947 em nossa cidade de Nazaré Paulista, por ele presenciada e ao final reproduzida.

A Festa do Divino

Originariamente europeia, aqui se modificou para adaptar-se às realidades brasileiras e se tornou a polarizadora de várias festas populares do calendário folclórico paulista.

A Festa do Divino é a festa da alegria, do agradecimento, do pagamento de promessas onde os elementos dominantes são os alimentares. O Brasil é um país de população pobre e subalimentada, por isso a grande, a boa festa, precisa ter o que comer.

Os Festeiros:

A crença geral é de que os festeiros são portadores de certas virtudes, e que por onde passam levam a bênção, afugentam doenças dos homens e animais e pragas das plantações. Embora os festeiros ganhem ‘status” social, é lhes vedado tirar lucros materiais da festa. Várias são as sanções. Acreditam mesmo que aquele que assim proceder, ficará “mal de vida”, tudo “dará pra trás”, morrerá na miséria em consequência de sua desonestidade.

O desamarrar das fitas:

Há o poder que chamou de mágico dos festeiros. Em Nazaré, competia ao festeiro, e só a ele, desamarrar as fitas e lenços das cabeças das pessoas que fizeram promessas. Os devotos, para cumprirem promessas vestiam lenços ou fitas amarrados na cabeça acompanhando as procissões nos dias da festa. Após a procissão, no Império, o festeiro desamarra fitas e lenços, um por um, dos devotos que iam passando em fila indiana.

A coesão e cooperação social:

A Festa do Divino também desperta a coesão social, a cooperação.  Há um tipo de promessa que tem caráter diferente, pois é paga co o trabalho, a ajuda nos muitos afazeres na Casa da Festa; cozinhar, lavar pratos, carregar água etc. É a promessa de “prestar adjutório”.

Os divertimentos:

Havia os grandes, tradicionais e populares divertimentos: cavalhadas, touradas, bailados de moçambiques, da congada e do caiapó e danças do batuque, jongo, cateretê, cururu e fandango.

Os poderes do Clero:

O clero tinha ascendência sobre o poder governante, pois só a ele competia coroar os imperadores. O momento culminante se dava quando o padre tira da cabeça do “imperador velho” a coroa para colocá-la na do “imperador novo”.

A maldição de padres:

Moradores de algumas cidades tradicionais costumam relacionar a decadência, a desgraça, a falta de progresso de seu município com o abandono ou pouca importância dada às Festas do Divino. Em outros lugares, a decadência das cidades é devida a alguma praga ou maldição que padre ou frade lançaram sobre eles. Assim, alguns povoados decadentes justificam o seu marcar passo na marcha do progresso.

As “Casas da Festa”:

Dois são os festeiros, daí duas Casas de Festa. A Casa da Festa do sábado, dia do “encontro das duas bandeiras” e a Casa da Festa do domingo. Festa com duas partes distintas: a profana ou semi-religiosa que é a do sábado e a parte religiosa, no domingo, com fornecimento de alimentos aos assistentes da missa, a escolha dos festeiros e a procissão.

As Bandeiras e tradições em algumas cidades paulistas em 1947:

Sem dúvida. É a bandeira o símbolo de maior resistência da Festa do Divino. É o último a desaparecer. Quando a festa se descaracteriza, quando perde o seu aspecto popular, quando desaparece a folia, a distribuição de alimentos, a Casa da Festa, o Império, resta apenas um símbolo – a bandeira.

Pindamonhangaba- Distribuição de doces aos pobres, almoço aos presos, e no matadouro, leilão de gado.

Natividade da Serra- A Casa da Festa se transformou em Casa do Café.

Avaré- Tradição de distribuir roscas, feitas com farinha de trigo, após a missa das 10 horas.

Nazaré Paulista-Várias bandeiras escoteiras percorriam o município e os portadores delas contratam com o festeiro, para receber como ordenado, 20% do que render o peditório.

São Luiz do Paraitinga- Dos janelões dos frontespícios da igreja, dezenas de pombos eram soltos e o festeiro ao chegarem à missa eram recebidos com chuva de pétalas.

A Festa e o Calendário Agrícola:

Havia uma inter-relação entre a Festa do Divino e o calendário agrícola. A Igreja deu a significação à “festa da colheita, dos primeiros frutos”. Os sacerdotes católicos chamaram a festa do nome grego de Pentecostes, comemorando os fatos gloriosos do Cristo, com a descida das línguas de fogo, forma materializada do Espírito Santo, bem como a forma corpórea da pomba. A festa deixou de ser a festa da colheita dos judeus, mas continua a s em muitas cidades paulistas ligadas ao calendário agrícola, daí, ser realizada após a colheita.

Os donativos, os bois e a carne:

Nos dias que antecedem a festa começam a chegar as dádivas, as promessas. No quintal da Casa da Festa há chiqueiros de porcos, de cabritos e carneiros, galinheiros para perus, patos, marrecos e galinhas. Mantas de carne verde de vitela e vaca são dependuradas nos varais improvisados. São abatidos muitos bovinos. No carro de bois vão os pesos de carne verde para distribuição na cidade. Os moradores da roça vão buscar a carne no açougue da Casa da Festa. A distribuição de carne era farta. Terminou tal usança e isso contribuiu para o enfraquecimento e desaparecimento da festa. Deixaram de distribuir a carne, e o gado era oferecido e leiloado ao Divino.

A Festa em Nazaré Paulista em 1947:

O autor, Alceu Maynard, descreve em minúcias as festas em São Luiz do Paraitinga, em Tietê e em cidades do beira-mar. E descreve a festa por ele presenciada em nossa cidade, Nazaré Paulista, em 1947; a seguir reproduzida:

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